Demantagem completa do fiat punto
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
Nosso Punto ELX 1.4 estreou no Longa Duração em dezembro de 2007. Recémlançado à época, vendia 3 600 unidades por mês, um fôlego de atleta comparado à média atual de 2 000, menos que Sandero e Astra. Pagamos 46 887 reais e esperamos quatro meses por ele – hoje, com os mesmos equipamentos, um modelo 2010 sai por 47 448 reais. Em julho, simulamos a venda do carro no mercado de usados: as propostas variaram entre 27 000 e 32 000 reais. Logo após o “teatro da venda”, o carro seguiu para a pista, em Limeira (SP). A perda de fôlego no mercado felizmente não se repetiu no desempenho. Entre os testes inicial e final, nosso Punto acumulou mais do que quilometragem ao longo de quase dois anos de convívio. A experiência deixou o carro mais solto, com registro de melhora em todas as provas de aceleração e retomada (veja o quadro comparativo na pág. 106). Em contrapartida, o consumo médio aumentou, indicando que= havia algo errado com o motor. O desmonte revelaria a razão de tamanho apetite. Entre o nascimento e a aposentadoria, nosso Punto não teve vida fácil. Rodou por 39 cidades e seis estados, pilotado por 43 diferentes motoristas. Nosso colaborador Felipe Carneiro deu uma esticada de São Paulo a Florianópolis (SC), em fevereiro de 2008, e após 2 000 km disse: “O teste inaugural em Limeira mostrou que o Punto é mais lento que um Celta 1.0. Mas posso dizer que, nas curvas fechadas da BR-116 e nos altos e baixos da serra que separa o leste do sul da ilha de Florianópolis, o motor 1.4 se virou bem. Pena que a conta no posto pareça salgada como a água da praia do Rosa”. Porém, quando Osmar Lazarini, especialista em tecnologia do Portal Exame, tentou dialogar com o hatch, a conversa não foi tão amigável assim. O sistema de interação Blue&Me se mostrou confuso na função de viva-voz de celular. Na edição de agosto de 2008, publicamos: “Em vez de cantar o número de quem ligou no esquema nove-um-trêsdois, diz noventa e um milhões, trinta e dois mil...”. Osmar comentou na época: “Assim, não reconheço nem o telefone da minha casa”. Aos 60 806 km, nosso Punto encostou na Fukuda Motorcenter, oficina responsável pelo desmonte. Reforçamos a necessidade de dar atenção especial à investigação da origem do consumo exagerado e do comportamento um tanto “violento” nas arrancadas: às vezes, o carro saía aos trancos, como um cavalo bravo, característica que começou a ser notada por volta dos 40 000 km e foi se agravando até o fim. Nosso consultor Fábio Fukuda não precisou de muito tempo para desvendar os segredos do veterano Punto. “Um dos coxins do motor está seriamente comprometido, com o elemento elástico rompido. Era ele o responsável pelas dificuldades nas saídas com o carro”, afirma Fukuda. “Se caísse nas mãos de uma oficina despreparada, poderiam acabar empurrando uma nova embreagem, pois o comportamento nas arrancadas é muito semelhante ao de um conjunto desgastado.” O restante do desmonte prova que Fukuda não foi cruel ao cogitar a hipótese de o Punto ser maltratado numa autorizada Fiat. Depois de funcionar o motor até que atingisse a temperatura ideal de trabalho, as medições iniciaram. Pressão de óleo e combustível estavam dentro das especificações. Nos cilindros do motor, porém, surgiram os primeiros indícios de que algo não ia bem. A Fiat não leva em consideração o valor nominal da pressão nos cilindros, mas sim as eventuais diferenças registradas entre eles – apesar de a montadora não divulgar sequer um percentual, o mercado de reparação considera como limite uma margem de até 20%. A média de três medições apontou para 196,6, 113,3, 180 e, de novo, 180 psi nos cilindros 1, 2, 3 e 4, respectivamente. Fukuda diz: “Bom seria se todos estivessem como o cilindro 1, que se mostrou com saúde plena. Mas a medição de 113,3 psi no 2 deixou claro que algo impedia a compressão ideal. Nos cilindros 3 e 4 a perda de pressão foi moderada, mas com o tempo a situação certamente se agravaria.” A resposta para esse problema estava no cabeçote. Com a desmontagem, as válvulas foram retiradas e analisadas com cuidado. As de admissão dos cilindros 2, 3 e 4 apresentavam considerável acúmulo de carbonização, sobretudo a do 2. “Cada válvula tem um retentor para impedir que o óleo escorra pela haste. É possível que eles tenham perdido a eficiência por trabalharem em contato com lubrificante que ou foi contaminado por combustível adulterado ou está muito desgastado. Este é um dos grandes problemas de revisões muito espaçadas. No Punto, elas ocorrem a cada 15000 km. Considero arriscado esperar tanto assim para efetuar a troca de óleo”, afirma Fukuda. Apetite voraz Tanto o problema do coxim quebrado quanto o dos retentores de válvulas poderiam ter sido detectados se houvesse uma investigação criteriosa após nossas reclamações registradas ao deixar o carro para as revisões. O nível desigual de pressão nos cilindros era o responsável pela elevação no consumo. O aumento de apetite é uma notícia pior ainda para um carro cujo tanque comporta apenas 48 litros de combustível. Depois de ouvir muita reclamação (nossa e de outros consumidores) a respeito da baixa autonomia, a Fiat adotou um tanque de 60 litros na linha 2009, conforme publicado na seção Longa Duração de setembro de 2008. Os problemas do cabeçote, felizmente, não afetaram o bloco. A parede dos cilindros e os pistões intactos, sem riscos e rigorosamente dentro das especificações da Fiat, comprovam a boa qualidade geral do motor – à exceção, claro, do “vazamento” que surgiu no cilindro 2. Na mesma proporção em que criticou a desatenção da rede autorizada, Fukuda elogiou a construção geral do veículo: “Fazia tempo que não desmontava um carro tão bem construído. Os painéis não se deformaram, as presilhas estavam bem presas e tensionadas e os encaixes, alinhados. E não houve economia na aplicação de materiais de isolamento acústico e térmico”. Boa notícia para um modelo que nasceu com muitos problemas de acabamento, como tampa do bocal de combustível com dificuldade de travamento e para-choque dianteiro que dilatava em dias de calor, deixando um vão de quase 1 cm em relação ao farol – males que acometeram não apenas o nosso Punto, chegando a ser tema do Autodefesa de fevereiro de 2008. Por duas vezes trocamos a coifa da alavanca de câmbio, que insistia em sair do lugar depois de algum tempo de uso. Por falar em câmbio, seu ótimo estado de conservação também impressionou nosso consultor. Engrenagens das marchas intactas, garfos com pontos de contato com as luvas impecáveis e anéis sincronizadores com ranhuras internas perfeitas arrancaram de Fukuda o elogio que todo carro de Longa Duração gostaria de receber: “Parece peça de carro zero-quilômetro”. O risco de as peças terem sido substituídas em alguma revisão não existe, pois marcamos diversas partes do carro no início do teste. E todas elas estavam lá. O conjunto de suspensão também foi aprovado, mas acabou entregando outro desleixo das concessionárias. Ao iniciar a desmontagem das rodas, notamos um desgaste irregular dos pneus, sinal de falta de alinhamento e balanceamento. Fukuda também nos deu uma bronca: “A calibragem estava errada e isso também acelera o desgaste irregular dos pneus”. Ficaremos mais atentos. Uma folga na barra axial direita (que liga a caixa de direção ao terminal de direção) era a causa de um barulho constante – defeito reclamado nas concessionárias durante as revisões de 30 000 e 45 000 km. Aprovado com poucas ressalvas após severos 60 000 km, o Punto mostrou que tem qualidade de construção e mecânica confiável para voltar a ter fôlego de vendas quando a próxima geração, remodelada, estrear – a previsão é que isso ocorra no primeiro semestre de 2010. Para isso, porém, precisará contar com uma rede autorizada mais atenta aos pedidos e reclamações de seus clientes.
Fonte: 4 Rodas
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