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Estradas sem asfalto e esburacadas já se tornaram rotina para ele. Certamente, não foi desenvolvido para enfrentar tantos percalços, mas encara sem vacilar. Não é para menos, que esse furgão Master da Renault é chamado pelos donos de "o primeiro furgão off-road". Ele já percorreu mais de 200 mil quilômetros Brasil afora e, garante a proprietária: nunca quebrou. Ao lado do casal Tânia Mara de Carvalho e Edu Abreu, é parceiro indispensável no projeto Ideia Fixa por um Sertão 100 Fome. Juntos, os três caem na estrada e levam consigo uma bagagem valiosa: alimentos, doações, livros e a esperança de mudar o futuro de milhares de famílias sertanejas.

A ideia do projeto surgiu depois que Tânia participou de um rali em Paranã, no Tocantins. "Quando vi um monte de crianças catando o lixo que íamos deixando para trás, pensei que deveria fazer algo por elas." Sensibilizada, em 2002 ela escreveu o livro Cêis É Rali, É? Decidiu trocar exemplares da obra por cestas básicas. Com uma tonelada e meia de doações, conseguiu alguns patrocínios e viajou por cidades atingidas pela seca, distribuindo mantimentos e roupas. Nasceu então o Ideia Fixa por um Sertão 100 Fome. "Encontrei uma menina de 17 anos que não comia há 5 dias. Ela mal conseguia engolir a água que eu dava para ela", conta. "Se apenas essa garota tivesse sido salva pelo projeto, já teria valido a pena." Todo ano uma comunidade carente é selecionada, de acordo com seus índices sociais. Tânia visita o local, confere de perto as necessidades da população e prepara as ações a serem desenvolvidas. As viagens são feitas a cada três meses e duram uma semana. Além das doações, os voluntários fazem palestras de higiene, saúde, controle de natalidade e desenvolvem oficinas de artesanato. "Não queremos apenas matar a fome dessas pessoas, mas passar algum conhecimento", conta Tânia. Os sertanejos aprendem a pintar em tecidos e telas, a confeccionar enfeites de Natal e a transformar pneus usados em móveis e cercas. O trabalho é revertido em renda para as famílias. O projeto já distribuiu mais de 95 mil livros e beneficiou mais de 100 mil pessoas. No ano passado, o Ideia Fixa atendeu comunidades em Aliança, no Tocantins, onde foram realizadas atividades educacionais e concursos literários. "Montamos três minibibliotecas no coração do Jalapão, região de uma carência extrema", afirma Tânia.

Além dos números que impressionam, o Ideia Fixa tenta resgatar a auto-estima das populações. Tânia lembra emocionada da gratidão dos moradores de Malhada, no interior baiano. Eles prepararam um espetáculo de danças típicas e folclore. "Essa festa não acontecia há 35 anos, e com pouquíssimos recursos eles resgataram a história de um povo."

O Ideia Fixa chegou a realizar viagens com 20 voluntários, uma carreta e dois caminhões de doações, mas hoje depende apenas do esforço de Tânia e seu marido. Com a crise financeira global, o projeto perdeu boa parte dos patrocínios. Mesmo com as dificuldades, o casal não desanima, e já faz preparativos para carregar o furgão e seguir em mais uma visita às comunidades carentes. O próximo destino já foi escolhido: é a cidade de Chapada do Norte, no Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais, região também conhecida como o Vale da Fome. Muitas comunidades da região ainda não contam com redes de esgoto e água, muito menos energia elétrica. A paisagem é repleta de casas de madeira – residências de alvenaria ainda são raridade por lá. O acesso às comunidades é difícil. Muitos dos moradores arriscam-se no trajeto até a cidade em caçambas de caminhões. Mais um desafio para o "furgão off-road"...

Fonte: Auto esporte